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13 de novembro de 2012

Espiritualidade no Trabalho

Entrevista com Edgard Menezes Publicado
Cada vez mais as organizações estão aceitando, de forma mais explícita, a dimensão espiritual dos seus colaboradores e a possibilidade de desenvolver a inteligência espiritual destes. Temos como resultados da espiritualidade no trabalho: o aumento de produtividade, o maior comprometimento e felicidade do indivíduo em seu trabalho e em sua organização. No entanto, a base da espiritualidade é a vivência de valores éticos e a disposição de servir o outro.

Edgard Jose Carbonell Menezes aborda este tema na entrevista do Instituto Jetro. Ele é Engenheiro Eletricista pelo Mackenzie, Bacharel em Administração de Empresas pela Católica do PR, Mestre e Doutor em Administração pela USP-SP, Diretor da DPA Consultoria, empresa especializada em projetos de desenvolvimento gerencial e planejamento orientados para o crescimento empresarial, e professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O que é inteligência espiritual?
Edgard - Seguindo os conceitos de inteligência emocional, inteligência social ou outras inteligências entre as múltiplas que os humanos possuem, autores definiram o conceito de inteligência espiritual. Essa inteligência como qualquer uma das outras, poderia estar presente em diferentes graus nas pessoas, podendo ser desenvolvida. O núcleo do conceito de inteligência espiritual estaria na capacidade da pessoa de transcender, de entrar em estados espirituais elevados de consciência, de investir atividades diárias, eventos e relações com um sentido do sagrado ou divino, e uma capacidade de utilizar ressonância espiritual para resolver problemas na vida cotidiana.

Quais são as causas do interesse pela espiritualidade nas organizações?
Edgard - Como na maioria dos assuntos pioneiros e criativos, o interesse pelo tema surgiu nos EUA com a publicação como matéria de capa em revistas de negócios; essas publicações mostraram que algumas empresas estavam introduzindo ações especiais como forma de atenuar problemas graves envolvendo a mão de obra utilizada por elas. Como exemplo, a contratação de capelães que serviram na guerra do Iraque para visitarem os locais de trabalho de uma rede de fast-food para ouvir o drama no cotidiano dos seus empregados. Artigos e livros começaram a ser publicados sobre o tema. Se for realizada uma consulta a um site sobre livros relacionados ao tema espiritualidade o número ultrapassa facilmente o número de 100 boas publicações. A espiritualidade no trabalho não foi inventada pelos americanos; eles apenas, com seu extraordinário pragmatismo, trouxeram à tona o que o oriente já vive há muito tempo. Como exemplos têm as empresas da indústria japonesa que é movida por uma gestão fortemente espiritualizada, já que a nação japonesa é muito guiada pelo amor a nação. O que dizer então dos países árabes onde os empregados interrompem o trabalho três vezes ao dia para orarem? As pessoas em geral, nos EUA, experimentam ansiedade e medo ao observarem aumento do relativismo, da violência nas escolas, ameaças ecológicas, desintegração da família, e a instabilidade nos empregos, muito estremecidas com a onda que viveram de downsizing e desemprego causado pela tecnologia.

Quais as dimensões da espiritualidade no trabalho?
Edgard - Uma dimensão é da transcendência de si mesmo, uma conexão com algo maior que si mesmo, é uma expansão de limites para abranger, por exemplo, outras pessoas, causas, natureza, ou a crença em um poder superior. A segunda dimensão é a do autoconhecimento que seria como uma integração coerente dos vários aspectos de si mesmo em um auto coerente; essa dimensão daria harmonia que é a sensação gerada por essa integração, também chamada de holismo. Termos como equilíbrio, autenticidade e perspectiva estão associados a esse autoconhecimento. A terceira dimensão é a do crescimento, um senso de autodesenvolvimento ou autorrealização, a realização de nossas aspirações e potencialidades.
A espiritualidade é "ligada ao que eu sou e o que devo ser." Se a transcendência leva a uma conexão com um Ser superior, o autoconhecimento ao equilíbrio, então o crescimento leva à perfeição.

Há modelos para programar a espiritualidade na organização?
Edgard - Sim. Quando um grupo bem intencionado se reúne para debater essa pergunta costuma propor a seguinte sequência de programação da espiritualidade: 1º. Passo: fazer uma pesquisa para conhecer o perfil e a espiritualidade das pessoas da empresa; 2º. Passo: reescrever ou elaborar a missão e os valores da empresa baseados na ética e na espiritualidade; 3º. Passo: divulgar junto aos stakeholders essas alterações; 4º. Passo: Definir um local só para meditação; 5º Passo: Dar treinamento; 6º. Passo: incentivar cidadania entre os empregados; 7º. Passo: incorporar a espiritualidade ao processo decisório.
Como pode ser observada no exemplo anterior, propostas de método para programar a espiritualidade nas organizações mais levantam outras perguntas do que respondem a pergunta original. Algumas lideranças somente buscam a espiritualidade quando passam por uma crise muito séria na vida pessoal ou em suas próprias organizações. A programação, portanto, depende 100% da principal liderança da empresa.

Poderia falar um pouco sobre os quatro níveis abordados porJudith Neal?
Edgard -  Nível 1: Desenvolvimento Individual - Quando a organização está empenhada em ajudar as pessoas a viver em alinhamento com seu caminho espiritual, e pode oferecer: salas de meditação, cursos sobre práticas espirituais e pode trazer palestrantes que falam sobre o desenvolvimento espiritual. Há um entendimento de que se as pessoas puderem descobrir e responder ao seu 'chamado' próprio ou senso de propósito, eles vão ser mais criativos, comprometidos e orientados para servir.
Nível 2: Desenvolvimento das Lideranças e dos Times Organizações - Oferecem cursos para os líderes com títulos como "Liderança Autêntica", "Liderando Com Alma" e "Liderança Espiritual." Líderes são encorajados a aplicar os valores espirituais como a humildade, confiança, coragem, integridade e fé em seu trabalho com suas equipes.
Nível 3: Processo de desenvolvimento organizacional (DO) - Para transferir o foco do lucro para o desenvolvimento humano.
Nível 4: Redefinindo o Papel das Empresas - Quando um novo paradigma: o objetivo da empresa passa a ser a solução para resolver os problemas na sociedade e no mundo, ao invés de ser um contribuinte para eles.

Como você entende os 3 P's da Espiritualidade no trabalho descritos por Ed René Kivitz? O P de proselitismo (a espiritualidade a serviço das religiões), o P de performance (a espiritualidade a serviço da produção e prosperidade das organizações) e o P de práxis (a espiritualidade a serviço do humano).
Edgard - O pastor Ed Rene em sua dissertação de mestrado na Universidade Metodista de São Paulo, em 2007, abordou essas três diferentes abordagens. Sua conclusão foi que a práxis - a espiritualidade a serviço do humano - é considerada a única expressão legítima da espiritualidade no mundo corporativo. Todas as demais têm uma probabilidade muito elevada de serem rejeitadas pelos empregados. Falar aos empregados sobre uma determinada religião procurando sua adesão tem se mostrado muito ineficiente; utilizá-la como instrumento de alavancagem dos resultados não tem dado certo; assim, é preciso que as lideranças queiram, com o coração e a mente, o bem estar de seus empregados (e de si mesmo) em primeiro lugar, e o beneficio da sociedade como um todo em seguida. Concluindo, há um pensamento que o capital espiritual venha, acima do capital financeiro e do capital da informação, do capital do conhecimento, ou do capital da marca, a ser o ativo mais importante das empresas. Se fizermos um paralelo com a nossa vida pessoal, veremos que isso faz sentido. Uma pessoa somente consegue viver em paz e com alegria, se sentir que está caminhando consciente que sua vida espiritual é bem encaminhada.

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