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19 de novembro de 2011

Entrevista Walter McAlister

Bispo Walter McAlister

"Ainda veremos muitas igrejas falindo, pois estão tão engajadas e aparentemente bem-sucedidas no modelo de “igreja-show” que dificilmente enxergarão o seu calamitoso fim."

Walter McAlister - nascido nos Estados Unidos e naturalizado brasileiro, tem uma sólida formação acadêmica e teológica, que inclui os cursos de graduação e mestrado em disciplinas como psicologia e estudos bíblicos na América do Norte. Ordenado ministro do Evangelho em 1980, ele hoje é o bispo e presidente do Colégio dos Bispos da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida, entidade que agrega 140 congregações. É também autor do Livro "O fim de uma era"(Anno Domini) e filho do bispo Roberto Mclister (in memorian) que teve papel destacado na inserção do Evangelho entre as classes médias urbanas.
ENTREVISTA

Bom Líder - Como participante do Terceiro Congresso Lausanne, de qual maneira o senhor avalia a urgência da evangelização mundial?
Walter McAlister - O Congresso levantou fatos e dados dos quais eu não tinha o menor conhecimento. Os apelos foram inúmeros, pedindo que nos engajássemos e contribuíssemos para frentes de trabalho cujas dimensões desafiavam minha imaginação. Cheguei a ficar aflito e me senti como se estivesse afogado em números. Mas não foram os números que me impressionaram tanto quanto a visão de uma Igreja que está crescendo ao redor do mundo de maneiras surpreendentes: o sacrifício, a união, a coragem, a incansável busca do cumprimento da Grande Comissão. Vejo na Igreja Brasileira uma preocupação com os que estão violando a sã doutrina, vivendo nababescamente, pregando prosperidade como virtude cristã e promovendo escândalos que depõem contra o testemunho fiel do Evangelho. Vejo outros que estão preocupados com o engajamento da Igreja em causas sociais, quase chegando à exclusão da proclamação simples da salvação que a cruz de Cristo nos proporciona. É claro que as duas vertentes precisam urgentemente se unir, sem atenuar nem uma nem a outra. A missão de viver dedicados ao que Cristo nos chamou é urgente e sempre será. Creio que Lausanne 3 foi um momento que, em muito, nos ajudou a renovar a visão dessa urgência. 

Bom Líder - O senhor acredita que a unidade da igreja é fator decisivo para a evangelização mundial?
Walter McAlister - A divisão da Igreja, seja pelas razões “certas” ou “erradas”, dificulta a evangelização. Para o mundo (e aqui falo mais do Brasil), a Igreja é um circo. Algumas poucas se destacam e são chamadas “igrejas sérias”.  Mas a verdade é que o conceito, ou melhor, o preconceito que o mundo faz da Igreja é negativo, não porque somos luz (e as trevas rechaçam a luz), mas porque não somos, na prática, o que protestamos ser na proclamação. Este fato certamente se deve ao fato de as igrejas mais escandalosas serem as mais visíveis. Todas as denúncias feitas contra elas apenas se juntam à sua própria imagem. Qualquer comentário sobre um fato se torna parte da percepção midiática do mesmo. Os críticos são uma espécie de pausa para os “reclames” do show principal, que é populista, barulhento, de baixíssimo nível, notório e, no fim das contas, anticristão.
Nem tudo o que se chama “igreja” o é, claro. Mas os que temem a Deus, amam a verdade e servem a Cristo precisam urgentemente promover um movimento de aproximação. Somente pela união, e tudo o que isso implica – bem querer, cooperação, oração, apoio mútuo e muito mais – poderemos chegar perto do que Jesus pediu ao Pai na sua oração sacerdotal. Afinal, a unidade tem como sua consequência necessária o que Jesus mesmo explicou: “...[p]ara que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti, que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.21 NVI).
Segue logicamente que uma Igreja dividida denuncia seu afastamento da aliança trina de Deus, da qual fomos privilegiados a comungar. Consequentmente, a missão de evangelização se torna uma empreitada aleijada e necessariamente débil, por não contar com todo o poder do Deus Trino. Ficamos frios e teóricos ou emotivos e superficiais – faltando o Gestalt encarnacional: a presença operante do Espírito de Deus no nosso meio. Realmente precisamos da benção de Deus, e da sua unção (Salmo 133). Um projeto de união é fundamental para o avanço da Grande Comissão.  

Bom Líder - Como o senhor analisa a participação da América Latina no Terceiro Congresso Lausanne?
Walter McAlister - É extremamente difícil fazer uma avaliação da participação da America Latina na Cidade do Cabo. Como continente colhemos as frustrações que qualquer corpo dividido teria que sofrer ao procurar ser bem representado numa aglomeração desse porte. Sofremos uma divisão carnal entre a Igreja brasileira e a Igreja hispânica do nosso continente. A própria língua é uma barreira e foi motivo de frustrações, quase que desde o primeiro momento. Protestos de representatividade foram externados ao longo do evento. Ao sentar numa mesa composta de dois brasileiros e quatro hispânicos, senti dificuldade de entender boa parte do diálogo. Me senti excluído.
Alguém expressou sua reação ao se referir a uma das associações que abrangem o continente todo com a simples frase: “É sempre assim. Já me cansei disso”. Expressei minha frustração na mesa entre irmãos de El Salvador, Colômbia, Uruguai e Equador. Não houve resposta. Tentei me comunicar com o proverbial “portunhol”.  Mas ao longo do evento senti um peso na minha consciência. Eu já havia renunciado a minha cidadania americana para me naturalizar brasileiro – um compromisso de enterrar os meus ossos aqui. Mas não queria ir além disso. A consciência pesou. Como falar de união sem que honrasse irmãos do nosso continente? A divisão aconteceu neste mundo pela confusão das línguas, em Babel. Pentecostes, por outro lado, inverteu a divisão fazendo com que todos ouvissem as Boas Novas na sua própria língua. Me rendi ao fato de que teria de aprender o espanhol, como um serviço a Deus e como um compromisso de honrar meus irmãos da América Latina. “Portunhol” é uma ofensa.
Nossa imagem não foi bem representada na Conferência. Os temas mais caros dos latino americanos não foram tratados em Lausanne 3. Houve poucos palestrantes convidados do nosso continente. Embora os organizadores tenham sido muito graciosos em reconhecer seus erros de percepção (principalmente no que se refere ao filme que retratou nosso continente para os demais delegados), o Valdir Streuenagel o disse melhor: “Nossa falta de representatividade e tematização foi culpa nossa e não deles”.  
Muitos criticam. Muitos agora vão teorizar sobre o que podia ter sido. Mas creio que precisamos deixar que o evento nos inspire a buscar servir a Cristo melhor e com menos crítica, menos fel, menos distância uns dos outros – e mais paixão cristã. No blog de Luiz Vanderlei, mestre na Escola de Pastores de Niterói, vi uma das reações mais lindas. Ele falou do evento como sendo uma provocação ao amor por Cristo e a expressão desse amor para com outros.

Bom Líder - Como deve ser o diálogo do Cristianismo com outras religiões?
Walter McAlister - Com respeito e cuidado, sabedoria e amor cristão. Devemos proclamar que só Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Isso pode nos custar muito. Mas não há outro assunto que mereça ser pautado em se tratando de uma comunicação com os seguidores sinceros de outras religiões.

Bom Líder - Está surgindo no Brasil uma nova aliança da Igreja evangélica. O senhor está confiante em relação a essa nova aliança?
Walter McAlister - Minha confiança se limita à urgência da sua criação. No que diz respeito a seu futuro, isso dependerá de oração, humildade, diálogo e tempo. Todos nós teremos que ver que, no que diz respeito a seus rumos, prestaremos contas a Deus, acima de tudo.
Eu sei que sou muito pequeno. Mas no que estiver a meu alcance quero me dedicar ao êxito da ACEB. Sei que tenho sido um “bicho do mato” quase a minha vida toda. Vivi por 15 anos numa caverna, por assim dizer, isolado do resto da comunidade eclesiástica e refletindo. Absorvendo e refletindo. Mas esse longo período sabático acabou, estou de volta ao diálogo nacional, disposto a colaborar com os rumos da Igreja num nível macro. Quero ouvir. Quero me expressar. Quero dialogar. Estou convicto de que não podemos viver na caverna. As igrejas que lidero estão avaliando os documentos da ACEB. Mas tenho recebido incentivo de todos, principalmente do Colégio de Bispos, a avançar nesse propósito de contribuir para a união da Igreja nacional.

Bom Líder - Qual o senhor considera ser o futuro da Igreja Brasileira?
Walter McAlister - Como disse no meu livro O Fim de Uma Era (Editora Anno Domini), a Igreja, como nós a conhecemos, está chegando ao seu fim. O modelo “igreja-show” está falindo. Esse modelo tem expressão em todas as igrejas, sejam elas tradicionais ou neopentecostais. Nos tornamos exímios apresentadores da fé (com toda a nossa teologia arrumada até a última vírgula), seguidos por exímios espectadores. Preparamos pessoas para serem membros de uma denominação, torcedores do líder A, B ou C, e não praticantes da Palavra. Discipulado, ação e missão foram relegados aos peculiarmente “chamados”, e destacados do corpo da igreja – formado por membros “normais”. O raio-x que René Padilla faz no seu pequeno livro O que é Missão Integral (Editora Ultimato) atinge o alvo em cheio: Missão faz parte da vida espiritual de todo cristão.
Discipulado não pode ser uma opção curricular na igreja, que se limita a oferecer um cursinho sobre o assunto. Discipulado precisa ser resgatado como a condição sine qua non da fé cristã. Afinal, a Grande Comissão se define por fazer discípulos das nações ensinando o que Jesus “mandou”.  A vida cristã e, consequentemente, a Igreja cristã é praticante, operante e consequente. As que não forem vão esmorecer quando vier a perseguição – que fatalmente sobrevirá ao ocidente. O futuro da Igreja até a volta de Cristo é incerto. Podemos investir no discipulado e principalmente na próxima geração. Aí depende dos lideres reavaliarem se suas igrejas discipulam ou não. Se não, ainda há tempo para dar uma guinada e voltar aos valores do Reino de Deus. Mas, lamentavelmente, ainda veremos muitas igrejas falindo, pois estão tão engajadas e aparentemente bem-sucedidas no modelo de “igreja-show” que dificilmente enxergarão o seu calamitoso fim até que seja tarde demais.

Entrevista cedida ao site Bom Líder - http://www.bomlider.com.br/

1 Deixe o seu Comentário:

  1. visao maravilhosa da atual cituaçao do circo chamado evangelho

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